sábado, 24 de outubro de 2009

O Futuro é Biológica e Espiritualmente Aberto (I)

Uma reflexão sobre origem do Universo, da Vida na Terra e do Homem. Citando Gedeão - Se eu tivesse a memória da luz, … os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra, os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos...

Casos e opiniões natura e uso
Fazem que nos pareça esta vida
Que não há nela mais que o que parece
Camões
A Terra é um palácio que olha para cima
O céu é um palácio que olha para baixo
Canção Malgaxe





1. Se tivéssemos a memória da luz

O homem antigo não tem a noção das dimensões do Universo que julga eterno e imutável, sente-se instalado numa Terra que supõe fixa, imóvel e, por fantasia, conveniência e estética, inscreve-a numa esfera onde as estrelas volteiam. A que distância se encontram? De que matéria são feitas? - poderá ele ter pensado.
O homem da Renascença aponta um telescópio para o céu, atónito vê-o expandir-se, tomar proporções gigantescas, descobre que a Terra é um planeta vulgar que gira à volta do Sol como tantos outros e pensa: Onde estou eu? Por que estou aqui?

Blaise Pascal (1623-1662) comenta os mais recentes conhecimentos científicos com a célebre frase: assusta-me o silêncio eterno destes espaços infinitos.

No século XX ainda há quem pense que o Universo contém um pequeno número de galáxias, mas hoje, os telescópios espaciais, mostram um número incontável daqueles sistemas estelares. O Universo será infinito? Não há resposta para esta e outras questões, mas o que a comunidade científica já descobriu, surpreende demasiado.

O astrofísico canadiano Herbert Reeves no livro Malicorne dá esta informação extraordinária: As galáxias afastam-se umas das outras. Portanto no passado estavam mais próximas. A partir da observação do movimento das galáxias e com a ajuda dos nossos conhecimentos da física, é possível recuar no tempo e reconstituir as condições anteriores do cosmo. Aparece-nos então progressivamente mais denso, mais quente e mais luminoso. A detecção da radiação fóssil, emitida há 15000 mil milhões de anos, dá-nos disso a confirmação...

A imagem mais antiga do Universo é uma imagem de monotonia. Uma papa homogénea de partículas elementares.

O cosmo tem uma história e os novos cientistas, herdeiros intelectuais das teorias pré-copernicanas e pós-copernicanas, são os historiadores. Eles narram a epopeia da matéria, desde a simplicidade da sua natureza inicial, até à complexidade, diversidade e beleza do Universo actual. Pelos meandros do percurso assinalam dois eventos cujo sucesso não é alheio às potencialidades já existentes no magma inicial: o despertar da vida e o aparecimento do Homem.

O fenómeno atrai audiências dos mais diversos campos do saber e as interrogações sucedem-se: A que leis obedece a Natureza? Como encontra ela formas cada vez mais complexas e perfeitas? Como surgiu a vida na Terra? Que se passou para que o ser humano seguisse um rumo diferente dos outros animais? Terá sido um simples acaso? Filosofia e religião como reagem aos novos conhecimentos?
A vida humana e o Universo estão na mesma urdidura e Reeves, por motivos óbvios, não perde uma oportunidade para o divulgar. Com simplicidade e clareza declara: Com as montanhas, as estrelas, as pedras, as rãs, com tudo o que existe estamos comprometidos nesta vasta experiência da organização da matéria.

Quem procura as raízes da ciência e da poesia no mito poético encontra-as. Com efeito, o mito, ao tentar explicar o Homem e o Universo, antecipa a Ciência. António Gedeão, lírica e epicamente, mistura poesia e ciência, recua para tempos imemoriais, e encontra as raízes cósmicas do ser humano, tudo no Poema da Eterna Presença:

Estou, nesta noite cálida, deliciadamente estendido sobre a relva,
De olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
Que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito! essa incomensurável distância de meio metro
Que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!
O que me perturba é que o todo possa caber na parte,
Que o tridimensional caiba no adimensional, e não o esgote
O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim,
De mim, pobre de mim que sou parte do todo

Se eu tivesse a memória da luz
Que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
Sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
Os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
Os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos...
Guardei a memória do infinito,
daquele tempo sem tempo, origem de todos os tempos,
em que assisti disperso, fragmentado, pulverizado,
à formação do Universo.
Tudo se passou defronte de partes mim
E aqui estou eu feito carne para o demostrar,
Porque os átomos da minha carne...
Já cá estavam.

Gedeão e Reeves estão em harmonia. A Natureza é a família do Homem. Será esta a grande mensagem da Ciência dos nossos tempos?

Em cada Primavera rebentos minúsculos irrompem dos troncos sem folhas de árvores e arbustos. O processo evolutivo também teve a sua Primavera quando o Homem, qual rebento, apareceu. E é por isso que o ser humano.

O porvir ampliará os conhecimentos, responderá a questões que hoje ainda não têm resposta mas, colocará outras. O futuro está por revelar. Por ora tudo parece saído do cinzel de exímio escultor e do pincel de fantástico pintor.

2 comentários:

  1. Olá Filha do Luar, gostei muito da sua escrita! Conto visitar o "Antes do Princípio" com frequência. Um abraço, Neuza.

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  2. É um prazer e uma responsabilidade receber a sua visita. Obrigada, saúde.

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