domingo, 19 de setembro de 2010

SINTRA, ESPELHO DO TEMPO, PEDE NOVAS METÁFORAS


Uma metáfora resulta da tensão entre dois termos, sendo por isso possível, obter um fecundo conjunto de combinações. Imitando um poeta persa, chamamos a Sintra, tal como ele chamou à Lua, o espelho do Tempo. A ideia de espelho atribui-lhe brilho e fragilidade, a ideia de Tempo, faz pensar que é muito antiga, carregada de história, de mitos, de poesia. Naturalmente, desta metáfora, decorre a questão: Que marcas, que imagens deste Tempo que é o nosso, mostrará o futuro?
O espírito de Sintra é frágil, raro, precioso. Transporta-nos à beira do êxtase, à paz sem palavras, mas é fácil pervertê-lo. Não assistimos ao seu desabrochar, mas estamos investidos da missão de favorecer a continuidade do desabrochamento. Não testemunhámos o afã dos habitantes de outrora, mas vivemos na terra que eles inventaram. O “archote” foi-nos confiado e, num presente que nada tem de plácido, está sempre algo para acontecer. Que projectos em gestão amadurecem? Que sonhos germinam?

O aroma selvagem dos bosques continuará a entrar pelas narinas e a chegar à alma, se os bosques existirem, o voo picado do falcão e as manobras que antecedem o pouso de uma águia serão espectáculo, se estes seres voadores percorrerem os ares, mulheres e homens amarão o pujante cenário natural e respeitá-lo-ão, se suas vidas não forem uma sequência monótona de injustiças e episódios falhados. Uma boa mulher cuja vida decorreu à sombra do Paço Real morreu sem o ter visitado. É preciso que a velha metáfora Sintra glorioso Éden se torne verdadeira, para a totalidade dos seus habitantes.

Sintra é o espaço ideal para abolir o Tempo, para viajar simultaneamente no sentido do passado e do futuro, do ser e do não ser. Respirava-se a frescura de tranquila manhã, num dia de encerramento do Paço da Vila. Olhávamos o monumento sentados num banco e, enquanto o corpo amolecia, rememoravam-se acontecimentos ali ocorridos. Eis que alguém começa a subir a escadaria. Abeirámo-nos para informar que o Paço estava encerrado, quando reconhecemos o visitante. Cabelos escorridos cortados a direito ao nível das orelhas, franja sobre a testa a um dedo de distância dos olhos expressivos e brejeiros, farta barba e, para culminar, sobre a camisa um belo e requintado colar, o mesmo da pintura que representa o casamento do Rei Venturoso com D. Leonor.



-Veio matar saudades a Sintra SENHOR DOM MANUEL? - Perguntámos.



- Venho a Sintra para meditar sobre o TEMPO - respondeu com naturalidade.


Íamos tentar colher pormenores sobre a meditação da real personagem, quando o ruído de um carro da G.N.R. que atravessava o largo, nos interrompeu. Os olhos ainda percorreram a escadaria mas… estava deserta. Em Sintra o sonho convive com a realidade.